29.12.10

Os 10 melhores filmes de 2010

O cinema em 2010 não trouxe muitas histórias arrebatadoras. O que ficou marcado foram as histórias bem contadas e as narrativas envolventes ou reflexivas. Mensurado a partir disto, este é um levantamento com os filmes mais marcantes que foram para a tela do cinema no ano passado em circuito comercial nacional. A apresentação é em contagem regressiva.

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O pódium da lista foi o mais difícil de ser escolhido. Entre o visceral filme francês de máfia passado na prisão, o tocante drama do menino turco à espera do pai desaparecido (quem não viu, prepare-se para ter o coração partido – esteja avisado) e o competente documentário que remonta uma das noites mais surreais e encantadoras da história dam música brasileira, considero essas três primeiras colocações varíaveis.

Runners up: Kick Ass, A Origem (Inception), Lunar (Moon), Onde Vivem os Montros (Where The Wild Things Are) e Amor Sem Escalas (Up In The Air).

28.11.10

Como fazer um comercial sem orçamento em 6 horas

O fato: O curso pré-vestibular havia encomendado para uma produtora de Porto Alegre, um vídeo comercial para veicular na RBS TV Serra Gaúcha durante o vestibular de verão 2011. Dias antes da mídia ir ao ar, a direção do curso atendeu a sugestão de uma consultoria de marketing para não veicular o material, já que o vídeo incitava a violência e não deixava claro que se tratava de um institucional de uma escola para vestibulandos. Fui chamado para avaliar o clipe.

A análise: Imagens (se de banco free ou não, não sei dizer) mostrando perseguições, pânico, correria, explosões, balas de revólver caindo no chão, trilha batidão e barulhenta. Frases alucinadas surgem ta tela dizendo que algo está para acontecer, que é preciso buscar ajuda. No final surge o logo da escola. Ao que entendi no momento, parecia curso de preparação para algo como concurso público de oficial de justiça ou para alguma coisa relacionada a segurança.

O briefing: Refazer o material com custo zero, mantendo a proposta de que a escola está se disponibilizando a ajudar aos pretendentes a acadêmicos.

O prazo: Menos de 12 horas - comecei por volta das 0h e terminei de fazer o movie às 7h.

Modo de fazer: Anote as frases do clipe original e procure entender do que se trata. Uma vez entendida a mensagem, reconstrua algumas delas, pensando em um conceito que indique bem-estar, confiabilidade e segurança. Se possível, procure pensar por qual o tipo de sensação você seria atraído ao escolher um curso pré-vestibular. Qualidade de vida? Ok. Pegue qualidade de vida e imagine você já no campus: gente inteligente, bem vestida, novas amizades, festa e praia no final de semana, geeks orientais estudando no gramado... Quando o low-budget é o no-budget, recorra ao bom e velho banco de imagens free. As melhores imagens vão ter assinatura em marca d'água. Carimbo e gotinha nelas! Sutilmente, inclua também umas imagens que passem a ideia de vitória, de competição e comemoração. E porque não umas gostosas semi-nuas e uns bonitões sem camisa?

Pra finalizar, escolha uma trilha free do Mac (Redondo Beach Long tem uma carga emocional que geralmente funciona). Monte as imagens em mosaicos no Photoshop. Dê um motion de aproximação ou afastamento em cada uma delas no Final Cut. Inclua as frases de efeito sobre as imagens e voilà! Olha um comercial fast food saindo...

14.11.10

Cinema de identidade cultural [2]

Na íntegra, a apresentação da palestra Cinema de Identidade Cultural, sobre a instalação do Núcleo de Produção Audiovisual Flores da Cunha/Brasil (NPAV) de acordo com os propósitos da União Europeia - que financiou a instalação do projeto através do programa URB-AL.
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11.11.10

Cinema de identidade cultural

29.10.10

#fashionkids


To tirando bacharelado em dirigir pimpolhos. Estão aí algumas fotos do catálogo da Coleção Inverno 2011 da grife infantil Colorkids, o segundo ensaio para a marca que faço direção de cena (o primeiro foi a Coleção 2010, com o fotógrafo Tiago Coelho, que postei aqui. Uma semana depois, já estava no set do catálogo de inverno da Diggs, outra marca infantil, mas que procurei dar um enfoque bem diferente na abordagem.

A coleção da Colorkids foi inspirada na monarquia francesa, com looks românticos para as meninas e urbanos para os meninos. Para a concepção visual do material, uma das referências foi Maria Antonieta (Marie Antoinette, Sofia Copola, 2006), um dos meus filmes preferidos. Claro que a partir da referência que nós formatamos o projeto ideal para essa coleção. E foi aí que permaneceu a ideia do clássico, do elegante, mas que não perdesse as texturas infatis. A locação foi o Hotel Casa da Montanha, em Gramado - que tem quartos com diárias entre R$ 400,00 e R$ 700,00. Cada quarto tem uma decoração exclusiva - e papéis de parede que deram a maior força para essa produção ficar impecável. A produção de moda é da Michele Gubert (@MiGubert) e as fotos são do Silas Abreu.


(Clique nas imagens acima para ampliar)

11.10.10

Uma tomada aérea da cidade

Durante pré-produção do filme promocional do Roteiro Turístico Vales da Serra, quando visitamos os seis municípios da Serra Gaúcha que fazem parte do programa, nos deparamos com algumas surpresas e particularidades em cada uma das cidades. Uma delas eu postei aqui no Twitpic, na época. Algumas não funcionavam quando filmadas, porque são sensoriais, outras sequer eram consideradas como no programa turístico, mas que ganharam destaque no vídeo – como a pitoresca e charmosa pousada e café em São Marcos, o Café Emporium. Outro destaque é uma tomada aérea noturna de Antônio Prado que está no filme. Veja o trecho:



Obviamente que a ideia foi dar um breve desnorteamento, antes do espectador perceber que se trata de uma maquete. Ainda não tive a chance de saber se o trecho funciona ou não. Dos poucos comentários que pude coletar (somente a equipe e alguns amigos e familiares haviam visto o vídeo editado até então), poucos dão-se conta que se trata de uma maquete, antes da mão surgir e posicionar a miniatura da árvore. Houve quem percebesse logo que amanhece ou quem teve poucos segundos de dúvida – caso do Jardel, que editou o trabalho e afirma ter percebido quase de imediato que se tratava de uma maquete, porque as luzes da maquete apagam sincronizadas. A referência da mão surgindo, presumo que alguém já deve ter percebido, vem da primeira cena de Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988), de longe o meu filme favorito do Tim Burton.



Esta maquete é trabalho do pesquisador, produtor cultural e escritor Fernando Roveda. O cara é um dos grandes mantenedores da herança da cultura italiana em Antônio Prado, que em termos de arquitetura é o mais autêntico núcleo remanescente da ocupação italiana no Brasil. São 46 prédios tombados do centro da cidade, todos eles devidamente representados na maquete do Roveda. A atração, realizada para ocupar o Centro Cultural da cidade, foi desenvolvida com o objetivo de percorrer o Brasil, divulgando a história e a cultura deste patrimônio histórico. A obra tem 7 x 4 metros, teve o custo total de R$ 22 mil, dos quais R$ 17.490 são investimento do Programa Monumenta.

Clique nas imagens para ampliar:

27.9.10

Estreia do filme publicitário 'Vales da Serra'

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23.9.10

Comentando o novo do Woody Allen

27.8.10

Maria à la Fellini

Do portal Propaganda RS:


"(...) Quem visita a exposição (itinerante Maria Della Costa: Seu Teatro, Sua Vida) acaba tendo uma grata surpresa. A mostra é acompanhada por um material em vídeo exclusivo: Para Maria, Com Amor, um depoimento emocionante do ator Juca de Oliveira, um dos melhores amigos e grande admirador da atriz. O material é uma edição especial da entrevista que o ator concedeu para a equipe do longa-metragem Um Espetáculo Para Maria Della Costa, que está em produção.


Juca de Olveira durante as gravações no Teatro Bourbon Country.
Clique na foto para ampliar. (Foto: Fernando Vanelli)
No vídeo, Juca revela histórias de bastidores que viveu com a atriz nas peças em que contracenaram juntos e não exista em declarar que Maria Della Costa é a grande atriz do teatro brasileiro. “Maria tem o melhor repertório. É a única atriz brasileira que interpretou somente os grandes textos do teatro”, afirma Juca de Oliveira, citando inclusive peças como O Canto da Cotovia, A Alma Boa de Setsuan, O Anjo Negro, Depois da Queda e Gimba. Para Maria, Com Amor foi originalmente editado para apresentação na Homengem à Maria Della Costa, que aconteceu em novembro de 2009, quando a Câmara de Vereadores de Porto Alegre entregou à atriz a Comenda Porto do Sol. A exposição itinerante Seu Teatro, Sua Vida, realizada pelo Memorial da Câmara, foi inaugurada na ocasião. Além de Para Maria, Com Amor, o vídeo-poema Entre Todas as Marias, animação de Juliano Carpeggiani e texto da escritora florense Giovana Zilli, também é exibido na visitação.


Um Espetáculo Para Maria Della Costa
Produzido pela Supernatural Filmes, com direção de Juliano Carpeggiani, o longa-metragem Um Espetáculo Para Maria Della Costa será um híbrido de ficção e documentário. A história vai partir de um grupo de teatro fictício de Porto Alegre que vai montar um espetáculo sobre a atriz, contando desde a infância até a reprodução das principais peças. Os trechos documentais conduzirão a narrativa, com a incursão de depoimentos e imagens de arquivo. “É como se a companhia de teatro estivesse fazendo a pesquisa para montar a peça”, adianta Carpeggiani, que revela ainda que o passeio pelo real e o lúdico é inspirado, tanto narrativa como esteticamente, por Entrevista, de Frederico Fellini.

Maria no Theatro São Pedro, um dos tantos palcos em que a
sua história aconteceu. (Foto: Tiago Coelho)
O diretor adianta que o roteiro, co-roteirizado com a documentarista Teresa Noll Trindade, irá propor um desnorteamento de realidade, sendo que, em alguns momentos, os atores da peça estarão representando os personagens reais, fora da peça. “Vamos contar a história de amor de Maria e Sandro Poloni, que acabou sendo o fundamento do sucesso da Companhia Maria Della Costa e motivo pelo qual ela abandona a carreira, quando ele adoece”, antecipa Carpeggiani.

A produção já encerrou a primeira das três fases de gravações, que consistiu na coleta dos principais depoimentos sobre a vida da atriz. Além de Juca de Oliveira, a escritora e pesquisadora Tânia Brandão, autora do livro Companhia Maria Della Costa: Uma Empresa e Seus Segredos, e a própria Maria, deram longos depoimentos que foram gravados no Teatro do Bourbon Country e no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, no final de 2009. A próxima etapa será as gravações do cotidiano da atriz em sua pousada em Paraty no Rio de Janeiro, a pesquisa de materiais de arquivo em vídeo, além da coleta de outros depoimentos. A terceira etapa será a realização da história de ficção. O longa-metragem tem produção executiva de Candida Schmidtt e direção de fotografia de Fernando Vanelli, que assim como Carpeggiani, também é conterrâneo da atriz."


Na coluna 3x4 do Carlinhos Santos:

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16.7.10

10 filmes para ter orgulho do cinema nacional

Para ver em tela cheia, clica em Menu e 'View Fullscreen'.


Para estrear o meu canal no Slideshare, fiz um infográfico comemorando o 19 de junho, dia do cinema brasileiro. Existe um movimento que afirma que é em 5 de novembro, mas creio que seja uma data comercial criada pelo Cinemark, com ingressos a R$ 2,00 pra ver Globo Filmes. De acordo com o site da Ancine é em 19 de julho que a gente deve pensar sobre a produção audiovisual brazuca. O Guia dos Curiosos relata que nesta data, em 1898, quando retornava de uma viagem à França, o cinegrafista italiano Afonso Segreto registrou as primeiras cenas em movimento em terras brasileiras. Era uma documentação da entrada da baía da Guanabara.

Confere aí em cima uma lista de 10 produções que muito me agradam. Como este blog é sobre o meu umbigo, o critério da lista são aqueles que considero as melhores produções nacionais desde a retomada. Além de ser os que mais gosto e respeito, também considerei a relevância desses filmes no cenário do cinema brasileiro. Pensando sobre a nossa falta de identidade e ao mesmo tempo sobre a falta de exploração da multipluralidade dela, elegi produções para questionar para onde o nosso cinema pode apontar - ou para onde poderia ter apontado.

Ao 15 anos, quando eu vi Terra Estrangeira em VHS e nem sabia quem era Walter Salles, tive duas impressões sobre cinema brasileiro: o áudio era desastroso* e que o Brasil poderia fazer thrillers competentes como os norteamericanos. Não era cinema comercial, mas dava a entender que poderia existir um cinema de apelo e qualidade aqui. Não foi o que aconteceu. Foram necessários mais alguns anos, até Cidade de Deus surgir e mostrar que o cinema de identidade também pode ter estética contemporânea e formato comercial. E mais uns bons anos para fazer um filmasso de ação pra assistir com combo no colo (Tropa de Elite) – e capaz de virar fraquia, como diz na cartilha de quem sabe fazer cinema como indústria. A razão por esses dois filmes não estarem na lista é justamente por todo mundo ter visto, ao contrário dos eleitos, que merecem uma corrida até a locadora – dois deles ainda não estão disponíveis para home video.

O que me chamou a atenção, quando revi a lista, foi que somente um desses filmes é descompromissado, uma comédia da Casa de Cinema. Os outros são produções festivaleiras, alguns com tons bem pesados e três excelentes documentários. De certa forma, esse infográfico levanta essa relação sobre cinema de identidade cultural e cinema comercial e mesmo sobre o bastante discutível Olimpo dos realizadores brasileiros. Afinal, o primeiro filme da lista é o único de um diretor espetacular que fez carreira na televisão.

*corrigido na edição em DVD.

1.6.10

Cinema na colônia é hype

O jornal Pioneiro veiculado na edição desta terça, dia 1º de junho, veio encartado com uma revista especial comemorando os 135 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul e os 100 anos da chegada do trem a Caxias do Sul. 135 Anos de Cultura foi um projeto do jornal em parceria com a RBS TV, que vai render também uma série de reportagens que irão ao ar durante o Jornal do Almoço.

Caracterizando os bisnetos de imigrantes que traduzem o legado da cultura através de arte, a Shamila (@shamilacolorida), o Marcon (@ofilhodogenio) e eu, estamos nas páginas da revista que fala sobre identidade cultural. O trabalho com a série Vindima da Imagem foi a abordagem, que deve ser estendida no Jornal do Almoço. Clica aqui pra acessar a revista digital completa e vai até a página 24, onde tem a reportagem conosco.

Nas páginas 14 e 15, dois dos protagonistas de O País da Cocanha são abordados com o mesmo tema que eu documentei no curta: o casal Domingos e Giacomina Caldart (79 e 74 anos, respectivamente) testemunham sobre a religiosidade e os capitéis.

A revista, realizada pelos jornalistas Carlinhos Santos e Tríssia Ordovás Sartori, fotos da Daniela Xu e o cinegrafista e editor Leonardo Moreira (como mostra este post do blog da redação do Pioneiro), abordou cinco eixos temáticos: identidade, gastronomia, religiosidade, arquitetura e dialeto.

Atualização 25.06.2010: E a matéria saiu também pra todo RS, na Zero Hora

25.5.10

Antes que o público acabe e o filme saia de cartaz

Quando a @casacinepoa resolve contar uma história no interior, é quando mais acerta. Olha o bacana Houve Uma Vez dos Verões e o excelente Saneamento Básico (estes dois do Jorge Furtado). Mas um dos trunfos do primeiro longa da Ana Luiza Azevedo pode ser, para alguns, também seu calcanhar de Aquiles. Não dá pra comprar a ideia, em Antes que o Mundo Acabe, de que os três adolescentes protagonistas cresceram e vivem numa cidade pequena. Os trejeitos da capital gaúcha que os atores têm gritam na tela. Não que isso comprometa o resultado final, mas certamente um trabalho com não-atores ou jovens atores do interior poderia agregar uma verdade que o filme ficou devendo um cadinho.

Logo no início, a história vai num rumo bem interessante. Daniel, Mim e Lucas são três amigos inseparáveis na faixa dos 16 anos, que cursam o último ano colégio na pitoresca cidade de Pedra Grande. Daniel e Mim (que tem esse nome para render dois ou três diálogos jorgefurtadianos) estão namorando, mas ela está dividida porque também gosta de Lucas. Eles passam o dia estudando, andando de bicicleta e passando o tempo na beira de um riacho. Discutem o que vão fazer da vida e pra onde vão morar depois que terminarem o Ensino Médio. Santa Maria, Porto Alegre, Viamão ou Nova Iorque. Esses ritos de passagem, da adolescência pra juventude, da cidade pequena para uma cidade grande, e mesmo do cotidiano simples ao lado dos amigos e da família, para um lugar diferente e longe de todos, já começava a dar um nó na garganta. Mas o roteiro opta por um caminho menos denso e acaba orbitando sobre as cartas do pai desconhecido de Daniel (que é fotógrafo e mora na Tailândia) e o roubo de um notebook na escola com pequenas reviravoltas ao estilo Meu Tio Matou um Cara.

Dizer mais que isso é raclamar de boca cheia. Antes que o Mundo Acabe é mais uma impecável produção da Casa de Cinema de Porto Alegre, com tudo no lugar. A reprodução da Tailândia, feita pela direção de arte, ancorada por uma caprichada fotografia, é excelente. Ao lado de outras duas produções sobre o mesmo universo, em exibição quase simultânea, o longa tem mais apelo comercial que o festivaleiro Os Famosos e os Duendes da Morte e é menos Malhação que o filme da Laís Bodansky. Ao conduzir um filme sobre adolescentes, Ana Luiza se comunica facilmente com essa faixa etária, sem ruídos. Diferentemente de Meu Tio Matou um Cara e Houve uma Vez…, não se trata do olhar de alguém mais velho sobre uma história vivida por adolescentes contemporâneos. Porém, se são do interior ou da cidade, já é outra história. Porque engolir que o Tergolina é piazão do interior, não foi fácil, não.

20.4.10

“Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade”


Longe é melhor do que aqui? Lá eu vou ser diferente e vou gostar mais de ser quem eu sou? Do que adianta eu ir pra longe quando o que eu quero de verdade é fugir de mim?



Os Famosos e os Duendes da Morte é sobre alguma coisa assim. Mas não é sobre quase nada daquilo que as revistas, blogs e sites de cinema dizem. Há pouco mais de uma semana até agora, desde que vi o longa dirigido por Esmir Filho no cinema, ainda não me deparei com nenhuma resenha, crítica ou comentário suficientemente digno do impacto desta pequena obra-prima para o cinema brasileiro.

Falam sobre a geração Youtube, a geração blogueira, a geração conectada que leva uma vida online. Críticos e cinéfilos publicando praticamente um release, tentando encontrar como descrever de uma maneira rasa um filme que não é fácil se ser explicado, porque é preciso sobretudo ser sentido. Copiando uns aos outros, apelam para comparatismos e usam Gus Van Sant como bode expiatório. Apontam movimentos de camera e decupagem, de Paranoid Park e Elefante (e muitas vezes nem justificam, só jogam a esmo a comparação). Sinceramente em nenhum momento durante a sessão, lembrei de Gus Van Sant ou de qualquer coisa que eu já tenha visto. Porque me parece um filme muito peculiar.

Se era intencional que fosse um filme sobre a geração Youtube (ou seja lá o termo que querem dar para os novos novos jovens), isso ficou relegado ao segundo plano. A internet é só um elemento entre tantos outros que compoem uma história muito maior e muito mais importante. Os Famosos e os Duendes da Morte é sobre não fazer parte. O guri anônimo que protagoniza a história vive numa cidade do interior, ao lado de Lajeado – não lembro se o filme chega a estabelecer se é Teutônia ou alguma outra cidade nas proximidades. Ele quer ir embora. Não se encaixa ali naquele universo. Não quer ir na festa de São João da comunidade, não quer visitar o túmulo do pai, não quer jogar bola na Educação Física, não quer fazer a prova de Biologia. Um show do Bob Dylan (provavelmente em São Paulo) representa a saída física daquele lugar. Porque o protagonista já tem uma válvula de escape virtual através de um espólio de videos no Youtube deixados por Jingle Jangle, a irmã do melhor amigo que se jogou da ponte que dá acesso a cidade. Há uma placa de saída no interesse do guri por um rapaz mais velho (interpretado por Ismael Caneppele, roteirista e autor do manuscrito que deu origem ao roteiro do filme), um tipo cabrero que havia ido embora da localidade e voltou depois do suicídio da menina, com quem mantinha uma relação de cumplicidade.

Acerca das intenções de partir, não faltam simbolismos que podem ser encaixados e interpretados conforme a leitura de cada espectador. Em uma das cenas fantasiosas do filme, o protagonista imagina estar no palco com Bob Dylan, que na verdade é o personagem de Ismael Caneppele, insinuando um hibridismo de desejo e fascínio, tanto pelo ídolo quanto pelo conterrâneo – os dois representam de alguma forma, a porta de saída. Mais evidente é um dos videos no Youtube, em que Jingle Jangle aparece com um saco de plástico envolvendo a cabeça, enquanto Caneppele o segura em seu pescoço – as pessoas (ou os personagens e por isso o autor) estão sufocadas naquela cidade.

Em certo momento acontece outro suicídio. Uma dona-de-casa viúva, mãe de dois filhos adolescentes, se joga da ponte. Não fica claro se outras mortes apontadas na história também se deram ali. O fato é que a ponte é uma passagem para além daquele lugar ou, como o protagonista mesmo diz, “do cu do mundo”. Mas não que a cidade seja um lugar ruim. É uma cidade pequena como outras tantas do interior do Rio Grande do Sul, de colonização européia, com tradições e dogmas que persistem há mais de um século de imigração. Naturalmente essas pessoas crescem, trabalham e têm uma família ali, dando continuidade a um ciclo. Mas há pessoas que não se conformam com isso porque não se sentem parte e, por alguma razão na construção de identidade e por isso por desejo, foram deslocadas desse ciclo. Existem então duas possibilidades de fuga e as duas levam à ponte. Atravessar e ir embora é a escolha mais difícil, porque invariavelmente, signifca levar a si mesmo e todos os descontentamentos e angustias consigo. A outra, escolhida por Jingle Jangle é, quem sabe, longe o suficiente para não viver a realidade.

O filme não aponta com clareza e, inclusive, termina antes disso, mas o guri muito provavelmente vai precisar se encontrar com a sua sexualidade. Numa leitura mais apronfudada e também evasiva, pode-se perceber nesse sentido algumas respostas para o comportamento do protagonista, sobretudo ao que diz respeito ao rapaz que volta para a cidade. E isso está na sutileza de ações e reações, não só na sugestiva cena na estação elétrica em que o triângulo amoroso torna-se carnal.

Resposta aliás, não é aquilo que Os Famosos... se propõe. O barato do filme é justamente levantar questionamentos sobre ele mesmo. Esmir Filho consegue fazer um cinema introspectivo e lento, sem deixar de ser envolvente. Isso porque, diferente de outros jovens realizadores Brasil afora, ele não faz cinema só para o próprio umbigo e, diferente de realizadores que já estão na ativa há algum tempo, não subestima a audiência entregando a história mastigada. Ele toma a frente de uma nova geração de realizadores, saídos de faculdade de cinema e sem os vícios televisivos que tanto estigmatizaram o cinema nacional. Traz na garupa um amontoado de prêmios em festivais internacionais e a assinatura da Warner na distribuição, abrindo as portas para realizadores independentes e mostrando uma identidade cultural diferente das estéticas que marcaram o cinema brasileiro nos últimos dez anos, seja da fome, da favela, da pobreza ou do sertão.

O maior elogio que eu posso dar ao filme do Esmir Filho é dizer que me causou o mesmo efeito de quando vejo algum filme novo do Tarantino, a vontade criar para estar no set. Os Famosos me motivou a tirar trabalhos da gaveta. E a gente que gosta da coisa sabe que cinema bom de verdade é aquele que através da emoção motiva.

26.2.10

VT Mostra Flores: versão censurada

Ta aí o comercial da Mostra Flores 2010 que eu dirigi para a Positiva Comunicação e Marketing (já é o terceiro que faço com a agência), com criação e computação gráfica do primo, diretor de arte, arquiteto, artista e pai do Breno, Elias Carpeggiani.



Esta é a versão que não está sendo veiculada na TV. A emissora afirmou que o plano em que a modelo (a Rudialva Vigollo, que em 1998 foi Miss Itália Nel Mondo) ergue a taça de vinho, faz apologia ao consumo de bebida alcoólica. "E aquele bando de babaca sempre em situações de auto-humilhação, nas propagandas de cerveja?", você pergunta. Ao que parece, a regra vem lá da Globo e a apologia à bebidas com teor alcoólico não pode estar relacionada a publicidade de festas e eventos. Brinde com espumante então, nem pensar. Mas vender o produto pode.

Regravamos o plano às pressas e, agora, a modelo ergue um cacho de uva.

A Mostra Flores é uma feira de turismo, serviços e negócios de Flores da Cunha que acontece entre fevereiro e março.

10.2.10

Gurizada fazendo carão no ensaio da Colorkids

Já está nas ruas o catálogo Outono/Inverno da grife infantil Colorkids, que fiz direção de cena do ensaio e a concepção visual do livreto. Com fotografia do Tiago Coelho e produção de moda da Valeska Finger, o material foi desenvolvido pela Candoo.

A grife buscou inspiração na Europa para criar a linha da próxima estação. Partindo da premissa ‘bon voyage’, a Coleção Outono/Inverno 2010 traz peças com cores e elementos que remetem a uma turnê pela Europa, mas sem nunca deixar signos do universo infantil de lado.

Nosso trabalho foi dar uma interpretação ainda mais representativa a essa mistura entre clássico e lúdico. Também seguimos a risca as tendências atuais dos catálogos de grifes internacionais que atendem a mesma faixa etária.

Seis pequenos modelos da região, com entre seis e dez anos, vestem looks entre trilhos, vagões e uma antiga locomotiva da Estação Férrea de Bento Gonçalves. Entre clics de momentos decisivos do Tiago Coelho, também botei a gurizada pra incorporar atitudes de moda e fazer carão. Dá uma olhada! Para ver as imagens ampliadas, é só clicar em cima.

O Carlinhos Santos, da coluna 3x4 do jornal Pioneiro, publicou esta nota.


5.1.10

“Macaroni combat” lidera minha lista dos melhores de 2009

Por pouco O Lutador não fica na pole position de 2009. Mas um ano com um longa do Tarantino é um ano do Tarantino. Só a sequencia inicial de Bastardos Inglórios, um diálogo longuíssimo e brilhante com a verborragia de costume, justifica a pagação de pau que vem desde 1995, quando vi Pulp Fiction pela primeira vez. No prólogo de Inglorious Basterds, o coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz), interroga o camponês que esconde uma familia judia debaixo do assoalho da casa (foto acima), com uma gentileza tão ameaçadora quanto desprezível. Palmas para o ator que construiu um personagem premeditadamente impecável, mas sem deixar de creditar o mérito do diretor, que é um ás em extrair boas performances. Obcecado em reciclar sub-gêneros obscuros, Tarantino fez seu “macaroni combat” – primo do western spaghetti, esse era o termo para os filmes B de Guerra realizados na Itália, que depois eram dublados para o mercado americano –, depois de estilizar os setentistas grindhouses (Death Proof), o chopxploitation (Kill Bill), o blaxpolitation (Jackie Brown), as histórias de revistas baratas (Pulp Fiction) e o filme de máfia (Cães de Aluguel). Em Inglorious Basterds, o devaneio de Tarantino extrapola ainda mais a realidade, rompe com a história e cria um final alternativo (e regozijante) para o fim do Terceiro Reich.

Poderia ter sido só a combinação do ator certo com o personagem certo, no filme certo e na hora certa. Mas O Lutador sobreviveu as frivolidades do Oscar e conquistou na estante um lugar ao lado dos outros dvds favoritões de todos os tempos. Câmera documental já não é novidade faz tempo, mas contar uma história de maneira crua é algo sempre bem-vindo. Darren Anorofsky faz seu melhor filme desde Pi, se redimindo de ter cometido o abismal Fonte da Vida. As atuações honestas de Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood, que interpretam pessoas sem perspectivas, são à prova de qualquer premiação do mainstream.

Deixa Ela Entrar foi a maior supresa do ano. Um filmasso de vampiro, mas que ao invés do terror, versa sobre solidão e amizade. E sobre bulling. Mesmo que o desfecho tenha ficado óbvio lá pela metade, o longa sueco dá um olé em qualquer outra produção da moda vamp que pegou no ano passado – de séries de TV bacanas como True Blood ao indigerível Crepúsculo. Outro terror da lista é o divertido Arrasta-me Para o Inferno, em que Sam Raimi volta às origens ao estilo Evil Dead e faz um filme sem a pressão dos executivos. Começo a dar risada só em lembrar do cadáver da velha vomitando na boca da loirinha. Demais!

O Festival de Cinema de Gramado trouxe boas produções nacionais (o longa Morro do Céu, quase que um episódio não oficial da Vindima da Imagem) e latino-americanas (La Teta Assustada e Nochebuena). O destaque ficou por conta do longa uruguaio Gigante, que deve ter umas 15 páginas de roteiro. Praticamente sem diálogos, é o filme que (quase) todo acadêmico de cinema pensou em fazer durante a faculdade: economia de planos, poucos diálogos, história simples, planos bem elaborados, final em aberto com plano estático e longo na beira do mar… e por aí vai. O filme é excelente, mesmo. Ainda em Gramado, ter assistido o vencedor da mostra, Corumbiara, foi uma experiência única. Bastante longo (são quase três horas de projeção) é um documentário que provavelmente não vou assistir nunca mais. Mas isso não anula o fato de ser um grande filme, competentemente bem editado, roteiro esturturado e comovente. Para esgotar os adjetivos, vou incluir um “revoltante”, também. Se o cinema nacional tivesse memória, a imagem em que os corumbiaras fazem contato com os membros da equipe pela primeira vez estaria entre as cenas mais inesquecíveis.

Completando a lista, a experiência estética de Valsa com Bashir, uma animação israelense com cara de documentário, que além do impacto visual (morri de inveja) também deixa o espectador perturbado por alguns dias. Dúvida vai na sétima posição, pelas atuações viscerais de Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams e Viola Davis (essa mulher aparece uns cinco minutos no filme, mas me deixou de queixo caído), além do trabalho do diretor em usar recursos da linguagem audiovisual para criar simbolismos de uma maneira bem parecida com o que Orson Welles fazia. Distrito 9, ficção científica sul-africana, que começa em estilo documental e dosa clichês do gênero com alguns paradoxos (o protagonista banana e mau caráter vira anti-herói mas permacene egoísta), merece uma colocação pela surpresa na sala escura (afinal, extraterrestres marginalizados e morando em favelas é uma ideia fantástica).

Gran Torino fecha o top 10 de 2009 pela sempre competente direção clássica e pela derradeira atuação de Clint Eastwood. Com uma trama já batida, com sinopse apropriada para o Supercine nos anos 80 (veterano de Guerra rabugento envolve-se no meio de brigas de gangue de imigrantes asiáticos), Eastwood conduz essa história com habilidade o suficiente para fazer derramar algumas lágrimas sem nenhum sensacionalismo ou exagero. Não tem nenhum apelo épico ou fanfarrismo de festival, mas nem por isso deixa de ser mais um filme que atesta a competência de um dos melhores realizadores em exercício.

Segue a lista:

1. Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds)

2. O Lutador (The Wrlester)

3. Deixa Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In)

4. Valsa com Bashir (Vals Im Bashir)

5. Arraste-me para o Inferno (Drag me to Hell)

6. Gigante

7. Dúvida (Doubt)

8. Distrito 9 (District 9)

9. Corumbirara

10. Gran Torino