25.5.10

Antes que o público acabe e o filme saia de cartaz

Quando a @casacinepoa resolve contar uma história no interior, é quando mais acerta. Olha o bacana Houve Uma Vez dos Verões e o excelente Saneamento Básico (estes dois do Jorge Furtado). Mas um dos trunfos do primeiro longa da Ana Luiza Azevedo pode ser, para alguns, também seu calcanhar de Aquiles. Não dá pra comprar a ideia, em Antes que o Mundo Acabe, de que os três adolescentes protagonistas cresceram e vivem numa cidade pequena. Os trejeitos da capital gaúcha que os atores têm gritam na tela. Não que isso comprometa o resultado final, mas certamente um trabalho com não-atores ou jovens atores do interior poderia agregar uma verdade que o filme ficou devendo um cadinho.

Logo no início, a história vai num rumo bem interessante. Daniel, Mim e Lucas são três amigos inseparáveis na faixa dos 16 anos, que cursam o último ano colégio na pitoresca cidade de Pedra Grande. Daniel e Mim (que tem esse nome para render dois ou três diálogos jorgefurtadianos) estão namorando, mas ela está dividida porque também gosta de Lucas. Eles passam o dia estudando, andando de bicicleta e passando o tempo na beira de um riacho. Discutem o que vão fazer da vida e pra onde vão morar depois que terminarem o Ensino Médio. Santa Maria, Porto Alegre, Viamão ou Nova Iorque. Esses ritos de passagem, da adolescência pra juventude, da cidade pequena para uma cidade grande, e mesmo do cotidiano simples ao lado dos amigos e da família, para um lugar diferente e longe de todos, já começava a dar um nó na garganta. Mas o roteiro opta por um caminho menos denso e acaba orbitando sobre as cartas do pai desconhecido de Daniel (que é fotógrafo e mora na Tailândia) e o roubo de um notebook na escola com pequenas reviravoltas ao estilo Meu Tio Matou um Cara.

Dizer mais que isso é raclamar de boca cheia. Antes que o Mundo Acabe é mais uma impecável produção da Casa de Cinema de Porto Alegre, com tudo no lugar. A reprodução da Tailândia, feita pela direção de arte, ancorada por uma caprichada fotografia, é excelente. Ao lado de outras duas produções sobre o mesmo universo, em exibição quase simultânea, o longa tem mais apelo comercial que o festivaleiro Os Famosos e os Duendes da Morte e é menos Malhação que o filme da Laís Bodansky. Ao conduzir um filme sobre adolescentes, Ana Luiza se comunica facilmente com essa faixa etária, sem ruídos. Diferentemente de Meu Tio Matou um Cara e Houve uma Vez…, não se trata do olhar de alguém mais velho sobre uma história vivida por adolescentes contemporâneos. Porém, se são do interior ou da cidade, já é outra história. Porque engolir que o Tergolina é piazão do interior, não foi fácil, não.