29.7.09
Cinema moleque
Foi em abril desse ano quando eu estava no Barra Shopping com a minha cunhada comprando um iMac na Fnac (o mesmo que quando cheguei em casa, liguei e dei de cara com um login de usuário com foto do sujeito e tudo!*) quando recebi uma ligação pedindo para que eu voltasse a Flores da Cunha para mais uma vez fazer a coordenação de produção do Astro – Festival de Cinema Estudantil. A princípio, recusei o convite porque já estava engatilhando alguns projetos e montando um outro rumo profissional, depois de quase três anos à frente do NPAV. Mas, de uma hora para outra, depois de algumas negociações, voltei para o NPAV mas dessa vez para trabalhar exclusivamente com os curtas a serem feitos pela molecada da Escola São Rafael. Não poderia ter sido diferente. De todas as experiências com o Astro, fora o surgimento em 1999 e 2000, este ano foi o mais enriquecedor e mais gratificante. Não vou nem tentar contextualizar como é trabalhar orientando uma molecada de 15 a 18 anos e depois ver o resultado, na maioria das vezes bem acima do esperado, porque ficaria longo e insuficiente.
O blog do Astro, que cobre as novidades e os bastidores do festival, é www.astrocinefest.blogspot.com.
Com pouco tempo para fazer os estudantes se tornarem realizadores capazes de produzir bons curtas, a estratégia que adotei foi de “teoria/prática/avaliação da pratica”. Já em abril, fizemos uma oficina criativa, em que a gurizada com idéia de fazer um curta contava a proposta e a gente discutia as possibilidades de se tornar ou não um curta. Depois disso, um grupo de 16 alunos começaram a fazer um curso intensivo, duas vezes por semana, estudando comigo linguagem audiovisual, roteiro, decupagem e direção de fotografia. Inevitavelmente, acabávamos entrando em direção de set, direção de atores, direção de arte e produção. O fato é que esses 16 alunos seriam espalhados dentro das equipes dos 12 curtas do São Rafael – eles atuaram como diretores de fotografia e assistentes, mas também orientavam os colegas.
Do Outro Lado da Ponte: é pra dormir de luz acesa. Mesmo!
Paralelamente aconteciam as oficinas de roteiro, direção, assistência de direção, para os alunos que encabeçavam as equipes. As propostas de curtas participaram de um concurso, parecido com o Histórias Curtas. Os alunos inscreveram projetos com argumento, cronograma e nota de direção. Dos inscritos, foram selecionados 12 para a realização, sendo considerado criatividade, originalidade e viabilidade. Além das oficinas, eu atendia individualmente os grupos para trabalharmos roteiro, planejarmos a decupagem, a direção e a produção. Foi divertidíssimo.
Muita roupa, mantas, estufa ligada e café batido a granel para espantar o frio do Espaço Maria Della Costa, enquanto a gente planejava a fabricação dos curtas participantes do festival em 2009. Daí vieram os roteiros mais bem elaborados deste ano, como o genial Putz! Matei o Jorge (uma sacada engenhosíssima que só precisou de algumas orientações e ajustes), o arrepiante Do Outro Lado da Ponte (que da confusa premissa sobre um meteoro que cai na Terra e espalha uma epidemia zumbi se transformou num clássico – e muito eficiente – conto sobre uma casa mal-assombrada) e o candidato a hit do ano O Abominável Homem do Mato (comédia dos mesmos realizadores de Em Busca do Artitchóqui Sagrado, que bebe na fonte do humor Chaves/Chapolin Colorado, sem nunca deixar de lado as referencias a Monty Python).
Sem desmerecer de forma alguma os outros roreiros, acredito que o que fez a diferença em 2009 foi justamente o trabalho com as orientações e assessorias (por parte dos realizadores), mas também a direção de fotografia (através da gurizada que fez o Intensivo). No fim, o que se tem é resultado de um trabalho de três edições: desde 2007, em que faço a coordenação de produção e orientação do Astro, até 2009, fecha um ciclo em que a gurizada que estava no Primeiro Ano e hoje está no Terceiro, realizando seus derradeiros curtas - pelo menos no Ensino Médio, espera-se.
Cartas de Monte Castelo: cenas da Segunda Guerra fotografadas de maneira impressionante por estudantes.
O Festival traz como novidade, por minha sugestão (uma luta de seis anos, mais ou menos), a Categoria Estadual, em que Escolas de Ensino Médio de todo o Estado puderam inscrever seus curtas – que pretendo comentar assim que ver todos os 12 classificados (a lista está divulgada aqui). Os curtas já foram assistidos pela Comissão Julgadora, ainda na metade de julho, que escolheram os vencedores em 35 desempenhos – que fica em segredo até dia 22 de agosto, quando acontece a badaladéeeeeerrima noite de premiação no Clube Independente.
O digníssimo parceiro Alfredo Barros, que esteve presente no Júri, fez um post no seu blog, falando dos curtas produzidos pela molecada em Flores.
O Astro – Festival de Cinema Estudantil tem as exibições dos concorrentes de 17 a 20 de agosto, no salão paroquial, em Flores.
* Isso mesmo, a Fnac, aquele paraíso do consumo gigantesco do Barra Shopping, vendeu um iMac usado. U-sa-do. Com fotinha de bocó no login do usuário e tudo. E demorou para aceitarem o produto de volta e devolverem meu dinheiro – só cederam com ameaça de processo judicial porque todos os meus cunhados são advogados. Te mete, Adams da Fnac.
1.3.09
Alguma coisa sobre o outono
Passada a colheita vem o momento em que as folhas secas caem. O parreiral se prepara para o novo ciclo, enquanto o que foi colhido matura na cave pra ser apreciado.
Foram diversos ciclos durante três anos, sempre emulando a safra, até chegar nas mostras que aconteceram em dezembro passado. A “Vindima da Imagem” teve mostra no Santander Cultural (em Porto Alegre), no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás (em Caxias) e no Espaço Cultural São José (em Flores).
O trailer na versão final (com nove minutos para vender 12 curtas) está disponível há algum tempo no Youtube.
Nas imagens espalhadas pelo post, a divulgação em três momentos: a matéria do jornalista Marcelo Perrone no Segundo Caderno da Zero Hora; a nota do Carlinhos Santos na Coluna 3x4, do Pioneiro; e a matéria do Sete Dias, também do Pioneiro, feita pelo Diego Adami (com direito a um Juliano Carpeggiani dois anos mais velho). É só clicar em cima pra ver os jornais.
Das mostras, fica o prazer de poder estar acompanhado por outros três entusiastas e co-autores de parte deste projeto, os parceiros Teresa Noll Trindade, Daniel Fuentes e Vinícius Guerra. Também fica o retorno do trabalho, nas palavras inesquecíveis do gerente do projeto da União Européia no Brasil, João Tonus, durante uma das sessões comentadas. “A gente sabia que tinha que fazer. Vocês só não fizeram, como transformaram em um produto pra ser consumido em massa”. Como produtor, ficou a sensação de dever cumprido.
Agora maturam na cave, esperando o gosto que o tempo vai dar.
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