No mundo pós-pandemia, o streaming chegou pra ficar, é verdade. Mas também é verdade que a experiência da sala de cinema, mais do que nunca, precisa e deve ser valorizada, porque uma forma de assistir filmes não substitui a outra. É evidente que o consumo de home video tem suas facilidades e confortos, isso desde o advento da saudosa videolocadora, que surgiu nos anos 1980 e desapareceu na popularização da Netflix, na segunda década do século XXI.
A vivência artística através da sala escura de projeção cinematográfica reserva um romantismo que jamais será substituído. Desde a compra do ingresso, o observar dos cartazes de filmes da ante-sala, a compra (ou não) do combo pipoca e refrigerante, sentar na poltrona escolhida e aguardar a projeção começar, são alguns dos ritos que fazem parte da experiência de 'assistir cinema’. Pois se tratando daquela que é a última e definitiva arte, a que de maneira ou outra contempla todas elas, nada é raso ou superficial. “No cinema, tudo significa”, foi uma das primeiras noções científicas que tive na faculdade Audiovisual, tendo como exemplo, a tempestade que acomete a mansão do magnata Charles Foster Kane que, em dado momento, reflete a angústia interna vivida pelo protagonista de Cidadão Kane (1941) - considerado por uma leva gigantesca de críticos o melhor filme já feito.
São emoções como essas que funcionam definitivamente melhor na sala escura, ao sentar na platéia em formato de arena, aguardar com ansiedade o apagar das luzes, assistir os trailers daqueles próximos lançamentos (alguns dos quais vão nos fazer voltar para esse ritual novamente) e, ao surgir os logos dos estúdios, assinar um contrato mental entre espectador e realizador de que, nas próximas duas horas, tudo o que for apresentado na tela grande será verdade, mesmo a mais fantasiosa ou absurda das ideias.
Nada substitui a vivência da sala da cinema, porque acima de tudo, é uma experiência coletiva. Ainda que não conheçamos as outras 400 ou 500 pessoas que ali estão na “arena” da sétima arte, naqueles instantes somos todos um coletivo, um grupo de pertencimento. Algo que o streaming, no conforto de casa, não proporciona nem poderá proporcionar. Em termos de reação, por exemplo, é catártico quando, em grupo, damos risadas espontâneas e simultâneas assistindo uma comédia, tomamos um susto num filme de terror ou suspense ou, ainda, nos emocionamos juntos com a tristeza ou felicidade de um companheiro protagonista na telona.
A partir de hoje, nas próximas edições de O Florense, te convido para acompanhar comigo a perspectiva do Cinema de quem optou não só por ir além da experiência de espectador e quis fazer da arte sua profissão, mas de quem ressignificou toda a existência em função dela.
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A coluna Cinemeando é publicada quinzenalmente pelo jornal O Florense. Você pode ler a versão impressa clicando aqui.